A SELVA É A CABEÇA

2013, Rio de Janeiro/Berlim. Projeção de vídeo (um canal), cor, áudio, 7min 35s em loop, Full HD.

Planos de uma Floresta Tropical coberta por fumaça. Feixes de um dia solar dão corpo ao movimento da fumaça. O vento ora revela, ora esconde a densidade Floresta. Em um jogo de opacidade e transparência, a fumaça nos faz perceber o vento entre as árvores. No interior da Mata Atlântica do Rio de Janeiro, em dia de lua minguante, uma mulher dá início ao cultivo do milho, segundo o ritual indígena guaraní.

„¿Con cuántos árboles se hace una selva? ¿con cuántas casas una ciudad?“ ORTEGA Y GARSSET, José, Meditaciones del Quijote

Durante uma viagem ao Brasil, fui convidada a participar da inauguração de uma Oca construída por amigos que vivem em Pedra de Guaratiba, um bairro na zona oeste do Rio de Janeiro mais próximo da Mata Atlântica e do mar. O grupo havia realizado uma oficina sobre a construção de Opy (casa de reza guaraní) a partir de métodos de reciclagem e aproveitamento de recursos naturais da região para uma construção sustentável. No dia seguinte à cerimônia de inauguração, iniciamos o plantio do milho, limpando o terreno com o corte e queima de uma pequena parte da mata. O vídeo “A selva é a cabeça” é resultado dessa experiência com o grupo e a aproximação com os rituais guaranís de construção e cultivo.

No contexto da exposição “Return to forever_Brutalism, Attitudes & Fiction”, realizada em maio de 2013 na Galeria do Centro Checo de Berlim, o vídeo é pensado como uma segunda janela para o exterior da galeria, que já conta com uma vitrine de vidro para a rua. O desejo de integração entre interior e exterior é uma das características presentes na arquitetura do prédio brutalista, construído entre 1974 e 1978 em Berlim. Ao projetar o vídeo no fundo da sala, o vídeo cria um choque entre o espaço de uma floresta exterior e as demais paredes de madeira do interior da galeria. O prédio e o corpo da sala, vistos como uma grande escultura, serão mais uma vez revestidos com madeira, de uma forma mais fantasmática. A imagem e os sons da floresta tropical brasileira criam uma atmosfera nesse espaço e são resignificados por meio de um novo contexto.


















© 2021 Barbara Marcel