ON LATEX: CRITICAL INFLECTIONS ON (NEO)EXTRACTIVISM IN LATIN AMERICA

Fala artística ‘Ciné-Cipó – Cine-Liana at Amazon Tall Tower Observatory’. Barbara Marcel (Bauhaus-Universität Weimar) em conversa com Delfina Cabrera, Ariadne Y. Collins, Marlon Miguel no simpósio organizado por Delfina Cabrera, Ariadne Collins e Marlon Miguel em colaboração com materia – DLCL Focal Group (Universidade de Stanford) no ICI Berlin - Institute for Cultural Inquiry.

27.09.2021, 19h30



"As coisas que os brancos trabalham tão arduamente para extrair das profundezas da terra, os minerais e o petróleo, não são alimentos”, como observa o xamã e porta-voz Yanomami Davi Kopenawa em A Queda do Céu. A extração tem sido historicamente associada à remoção de materiais subterrâneos, ao passo que o extrativismo é uma noção mais ampla que conota um modo de acumulação principalmente branco e colonial do Ocidente. Para a maioria dos países latino-americanos, sua riqueza natural se tornou sua maldição, permeando os reinos material e simbólico. O regime extrativista amarra o meio ambiente e governa a vida das pessoas subjugadas a ele, transformando-as em meras mercadorias. No final do século XIX e início do século XX, a borracha exemplificou muito bem as consequências devastadoras do extrativismo. O látex realizou o sonho industrial de uma “substância extraordinária”, o primeiro material cuja plasticidade o tornava adequado para se tornar tudo o mais: roupas à prova d'água, automóveis, infraestrutura de comunicação, guerra mecanizada. Durante o boom de sua extração, a Floresta Amazônica supriu cerca de 60% da demanda mundial de borracha. Essa fome de borracha refletia a expansão da onipotência do capitalismo global, com consequências desastrosas para o meio ambiente e para as populações locais. Durante o genocídio negligenciado ao longo do rio Putomayo, de acordo com John Tully, para cada tonelada de borracha extraída e despachada para o Norte Global, sete vidas indígenas foram perdidas.

A retirada de grandes quantidades de recursos naturais do Sul Global foi fundamental para atender à crescente demanda por bens dos centros do capitalismo nascente. Essa lógica nunca cessou e o que hoje se chama de neoextrativismo reproduz a condição colonial e subordinada dos chamados países periféricos. No entanto, essa racionalidade extrativista não assegura apenas a produção de bens, mas se estende à produção de conhecimento e à importação de estruturas epistêmicas que explicam as realidades locais. O extrativismo cognitivo, afirma Silvia Rivera Cusicanqui, privilegia o “centro” como produtor de modelos teóricos e interpretativos, enquanto a “periferia” permanece relegada ao status de caso ilustrativo. A matéria-prima exportada é posteriormente convertida em conceitos e enviada de volta aos seus locais de origem com valor agregado. O simpósio busca examinar e questionar os diferentes modos de extrativismo que prejudicaram e marcaram as histórias da América Latina e do Caribe. As qualidades distintas da borracha (plasticidade, isolamento, expansividade, apagamento) são o ponto de partida para uma investigação contemporânea do (neo)extrativismo. Suas facetas políticas, ambientais, culturais e sociais serão analisadas, em especial quando forem criticamente abordadas pela literatura e pelas artes visuais. Artistas e acadêmicos explorarão esse modo de acumulação em sua relação íntima com a produção e a circulação da teoria e do capital cultural; com o epistemicídio e a necropolítica; e com uma visão de mundo restritiva da “natureza” como um reservatório inerte para a exploração econômica.

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